Retrospectiva Braziliando 2023

Mais um ciclo que se encerra e viemos celebrar as conquistas, os aprendizados e as pessoas que fizeram parte desse ano especial. Em 2023, recebemos um prêmio inédito, participamos de programas inspiradores, espalhamos nossas sementes em um novo destino e promovemos encontros marcantes. Vem conferir tudo o que rolou na Retrospectiva Braziliando!

O ano começou com uma grande surpresa: fomos premiadas com o United Earth Amazonia Award, o Nobel Verde. Além da emoção e felicidade em recebermos essa conquista, a noite da premiação também foi uma oportunidade de reafirmarmos nosso compromisso com a sustentabilidade e de celebrarmos com pessoas da comunidade e outros parceiros que ajudaram a construir a nossa história.

Fizemos conexões com pessoas, negócios e empresas que nos ajudaram a fortalecer nossa essência e contribuíram com nossa trajetória. A Braziliando foi um dos negócios mentorados no Programa Inovação Social para a Amazônia, realizado pelo Portal do Impacto e a Phomenta. Nossa sócia-fundadora, Ana Taranto, se inscreveu para o programa e passou por uma capacitação online. Das quase 300 pessoas que se inscreveram, apenas 10 com melhor engajamento e participação foram selecionadas para receber mentorias individuais. Foi uma experiência enriquecedora, que nos permitiu ter novos olhares e ampliar nossa rede de contatos.

Também fomos aprovadas para a primeira fase do programa de aceleração 100+ Labs Brasil, uma iniciativa da Ambev em parceria com a Parceiros pela Amazônia e USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) e executada pelo Quintessa, que une inovação e sustentabilidade. E agora, no final do ano, também fomos aprovadas na Aceleração EmbraturLAB #2! O programa de inovação é realizado pelo Turistech Hub, o hub líder em inovação no turismo brasileiro, e pela EmbraturLAB, o braço de inovação da Embratur.

Nossa sócia, Tereza Taranto, também se conectou com importantes instituições que atuam na região amazônica. Em uma visita de campo muito especial, Tê se reuniu com nossos parceiros indígenas para traçar o planejamento da vivência Amazônia Baré e conheceu novas comunidades e histórias.

Tivemos alguns encontros especiais neste ano! 🙌 Em abril, nos reunimos na “cidade maravilhosa” pra percorrer a trilha indígena do Jardim Botânico. Por lá vimos várias espécies de plantas presentes no cotidiano dos povos originários, como Samaúma, Manacá e Vitória-Régia, e ainda curtimos um momento de confraternização. Em 2023, também teve o Braziliando Cozinha! Juntamos virtualmente o nosso time pra fazer uma moqueca de banana e um delicioso pavê de frutas. Qual será nossa próxima aventura gastronômica?

E as campanhas de 2023?! Quem nos acompanha no Instagram viu nossa missão de retirar o plástico de uso único da nossa rotina na Semana Sem Plástico, pra mostrar que #NossoPlanetaNãoÉDescartável. Também falamos sobre diversidade e inclusão na Semana do Orgulho, com direito a roda de conversa virtual e muita reflexão!

Outra ação importante foi a Conexão Baré Seca Amazônica, que alertou sobre a forte estiagem no Amazonas e arrecadou doações para nossos parceiros indígenas Baré. Por causa da seca, a vivência Amazônia Baré precisou ser suspensa.

Neste ano, também conseguimos realizar um desejo antigo de atuar em outras regiões e com novas comunidades. Atravessando o Brasil, rumo a Mata Atlântica, realizamos o nosso encontro de equipe no feriado da Consciência Negra em um quilombo. Apesar de conhecermos a região há bastante tempo, foi em 2022 que a Ana conheceu a comunidade e desde então começamos a desenhar essa parceria.

Junto com uma historiadora antirracista, Odara Philomena, vivemos uma imersão em um quilombo com mais de 200 anos de história e resistência. Além da comunidade ter conduzido atividades culturais e na natureza para a gente imergir no seu modo de vida, Odara trouxe questionamentos que contribuíram para a valorização da cultura negra e a quebra de preconceitos.

A Vivência no Quilombo é uma experiência transformadora e já tem data para acontecer em 2024 – de 30/05 a 02/06. Nessa imersão, você escuta as histórias da comunidade, prova as delícias da região, mergulha no rio e caminha em meio a Mata Atlântica, participa de oficinas e até de uma roda de jongo! Preencha a ficha de interesse para receber mais informações!

E você também pode embarcar – em qualquer época do ano e sem a necessidade de fechar um grupo – na vivência Amazônia Baré. Nessa jornada pela floresta e a cultura indígena, você se hospeda em uma pousada familiar, vivencia atividades do dia a dia local (como navegar de canoa ou caminhar pela mata), ouve as histórias e entra em contato com a sabedoria ancestral dos Baré.

Nossa gratidão a todas as pessoas que fizeram parte desses momentos e que fazem parte da nossa história. Neste ano, a Braziliando completou 7 anos de existência e nossa trajetória não seria a mesma sem as parcerias que construímos nesse caminho.

Nosso desejo para o próximo ano? Continuar promovendo a mudança que queremos ver no mundo! Bora com a gente nessa missão?

Dia da Consciência Negra: história, feriado e imersão quilombola

Em novembro, no dia 20, é celebrado o Dia da Consciência Negra. A Braziliando inicia hoje uma programação especial e uma nova vivência imersiva e responsável, para trazer essa pauta tão importante, buscando trazer reflexões para promover transformações sociais positivas.

Por que um dia da consciência negra?

O Dia da Consciência Negra representa uma luta centenária, que não pode (e nem pretende) ser resumida em um dia ou até mesmo neste texto. E, apesar da pessoa que aqui escreve não ser negra, estamos ocupando esse espaço como forma de assumirmos nossa responsabilidade. A Braziliando se une a luta contra o racismo e na construção de um mundo mais justo e igualitário.

São esses também os objetivos por trás da instituição dessa data, resultado da luta do movimento negro para mudar o então feriado do dia 13/05, quando foi aprovada a Lei Áurea, documento que não garantiu reparações a população negra.

No dia 20, também é celebrado o Dia Nacional de Zumbi, uma homenagem ao líder do maior quilombo do continente americano, Zumbi dos Palmares. Assassinado em 1695, Zumbi é símbolo de resistência e luta contra a escravidão, além de todo seu esforço pela liberdade cultural e religiosa da população africana. A data reconhece o seu legado e serve de motivação para que a desigualdade racial e a descriminação tenham um fim.

Contudo, não basta apenas reconhecer o racismo estrutural, é preciso não se isentar. Se tornar uma pessoa aliada na luta antirracista não significa estar livre do racismo, mas estar disposta a desafiar o racismo nas outras pessoas e em si mesma. Essa é uma das reflexões que buscamos despertar em uma vivência imersiva em um quilombo histórico.

Quilombo: história de luta

Fotógrafo: Cristiano Braga

O Quilombo dos Palmares foi apenas um dos inúmeros que existiram no nosso país. Os quilombos são lugares de resistência. Eles foram (e são) uma das diversas formas de manter viva a cultura, a história e a identidade da população negra.

É comum imaginar os quilombos como lugares de luta e refúgio de pessoas negras escravizadas, mas, hoje, são territórios de moradia, de produção, de lazer, de conhecimento e de permanência. Eles abrigam vivências e práticas compartilhadas que ajudam a preservar e a afirmar esse modo de vida.

Atualmente, são cerca de 6 mil quilombos no nosso país, nas áreas rurais e urbanas. Os estados com as maiores populações são Bahia, Maranhão e Minas Gerais que, juntos, concentram mais da metade de todos os quilombolas do país.

Dessa forma, a resistência e importância dos quilombos são mais atuais do que nunca!

Comunidades quilombolas

De acordo com o último censo, a população quilombola já ultrapassa 1,3 milhão de pessoas. Quase 13% desse total vive nos 494 territórios quilombolas oficialmente delimitados, enquanto a grande maioria vive fora dessas áreas formalmente reconhecidas.

Os povos quilombolas são um dos principais aliados na defesa de um futuro mais sustentável. Ajudando a proteger a Amazônia e até a biodiversidade da América Latina, as comunidades quilombolas possuem uma forma particular de enxergar e de se relacionar com a natureza. Portanto, conseguem garantir sua sobrevivência sem prejudicar o meio ambiente para as gerações futuras.

Vivência quilombola

Imersão no Quilombo - de 18 a 20/11 (feriado do Dia da Consciência Negra)

Nada melhor do que uma imersão quilombola para fazermos essas reflexões, enquanto aproveitamos a natureza para nos conectar com nossa ancestralidade e com a gente.

De 18 a 20/11, nossa equipe vai embarcar em uma vivência quilombola em um lugar com mais de 200 anos de história e resistência. E sabe qual é a boa notícia?! Decidimos abrir essa experiência para quem mais quiser participar com a gente! O quilombo está localizado na costa norte de São Paulo (a menos de 300km da cidade de SP e do RJ), em uma das mais preservadas áreas de Mata Atlântica de lá.

Entre as diversas atividades do roteiro, vamos:

  • participar de rodas de conversa para conhecer a história da comunidade,
  • preparar pratos típicos com a ajuda de uma habilidosa cozinheira,
  • ouvir como surgiu a boneca Abayomi – símbolo de resistência, amor e proteção que guardava as crianças durante a travessia nos navios que aprisionavam e comercializam a população negra,
  • e dançar o jongo – uma celebração da memória negra, que conecta passado e presente, musicalidade e resistência.

A comunidade local é a protagonista da vivência e, além de conduzir cada atividade, compartilhando toda sabedoria do povo quilombola, recebe a maior parte do valor. Você ainda vai contribuir com a geração de renda na comunidade, o fortalecimento do turismo comunitário e a valorização da cultura tradicional.

Conscientização

É importante reconhecer que a população branca sempre foi privilegiada e se beneficiou do racismo e discutir o assunto de maneira aberta e honesta. O racismo não precisa ser consciente ou intencional para ser válido e pode ser praticado por qualquer pessoa, até mesmo as engajadas na luta antirracista.

Como diz Robin DiAngelo, “consciência sem ação não tem significado”. Por isso, ela acredita que entre os passos para combatermos o racismo estão assumir sua responsabilidade, reconhecer seus privilégios e buscar referências de pessoas negras. A esse último ponto vale procurar pessoas negras na literatura, na arte, no audiovisual, no empreendedorismo e nas viagens.

A educação é uma importante aliada. Aprender e crescer com os erros e se abrir para correr riscos são passos importantes. Nunca entenderemos o que precisamos entender sobre o racismo se não escutarmos as pessoas negras, mas essa também é a responsabilidade das pessoas brancas.

Por fim, lutar pela mudança que queremos ver no mundo significa abrir os olhos para a desigualdade racial e buscar caminhos para uma sociedade mais igualitária.

Orgulho

Semana do Orgulho – Ser livre pra amar, viajar e existir

No dia 28 de junho é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+. Aqui na Braziliando, a diversidade e a inclusão são alguns dos nossos pilares e acreditamos que promover encontros autênticos entre pessoas de realidades e vivências diferentes pode ser uma forma de valorizarmos as diferenças e quebrarmos estereótipos. Vem com a gente na Semana do Orgulho Braziliando!

Orgulho e Diversidade

Você não precisa saber o significado de cada letra da sigla LGBTQIAPN+ pra entender que elas falam sobre diversidade, mas conhecê-las pode trazer mais conhecimento e compreensão.

Elas representam variadas formas de expressar seus afetos, sua identidade e seu corpo.

Clique na imagem e confira seus significados no nosso post!

Essas letras, juntas, representam uma resposta ao silêncio e à violência. Colocadas, lado a lado, elas se somam ainda que o sinal de adição fique no final.

Celebrar a diversidade e inclusão significa lutar para que cada uma dessas existências seja amada e respeitada! Por isso, a Braziliando segue em mais uma campanha de conscientização e valorização de vivências que são constantemente minorizadas.

Lésbicas e gays, pessoas trans e queer, e todo o leque de identidades e sexualidades que o “mais” reforça, merecem uma vida livre de preconceitos, violências e discriminações. A comunidade LGBTQIAPN+ luta por seus direitos de amar, existir, ocupar espaços e viajar.

Viagens responsáveis e autênticas: uma via de transformação

As viagens são uma ótima forma de nos conectarmos com realidades diferentes e ampliarmos nossos referenciais culturais. Quando nos relacionamos com pessoas de outros contextos, de forma autêntica e respeitosa, podemos mudar nossa visão de mundo e rever preconceitos.

Os povos indígenas e a comunidade LGBTQIAPN+, por exemplo, carregam muitos desses prejulgamentos que são reforçados por imagens estereotipadas dessas pessoas. Quantas pessoas ignoram ou desconhecem a existência de indígenas LGBTQIAPN+? Será que viajantes LGBTQIAPN+ consideram comunidades tradicionais como opções de destino para suas viagens? Você considera a diversidade oposta à ancestralidade? Você sabia que há sinais de diversidade sexual no Brasil pré-colonial?

Ver listas de lugares para pessoas LGBTQIAPN+ evitarem viajar ou mesmo ler relatos de pessoas da comunidade que foram discriminadas durante sua viagem é algo que pode impedir muitas pessoas LGBTQIAPN+ de viajarem. Somado a outras questões, como o racismo e o machismo, viajantes podem acabar desistindo de conhecer um destino ou mesmo escondendo sua identidade ou orientação.

Os relatos de nossos viajantes LGBTQIAPN+ da vivência Amazônia Baré mostram que a floresta pode abraçar toda a diversidade que procura abrigo debaixo de suas árvores e no leito de seus rios. O povo Baré, que representa esse acolhimento amazônico, encheu os corações dos casais homossexuais Eduardo e Rodrigo e Nathalia e Amanda de alegria.

Amazônia Baré: acolhimento da floresta e seus protetores

Rodrigo e Eduardo

Rodrigo e Edu em sua vivência na Amazônia

Eduardo e Rodrigo estão juntos há 10 anos e, apesar de já terem viajado outras vezes, participar da Amazônia Baré foi a primeira imersão em uma comunidade tradicional.

Rodrigo compartilhou que o casal já tinha uma certa segurança em viver essa experiência pelo acolhimento da nossa equipe. “Desde o início a gente se sentiu acolhido. Vocês sabiam que a gente ia estar juntos e em nenhum momento isso foi tratado de forma desrespeitosa. Em nenhum momento estarmos lá dentro foi colocado como um problema”, ele compartilhou.

Lá na comunidade, esse sentimento foi reforçado pelo acolhimento da anfitriã na comunidade indígena, Paty. “Em nenhum momento a gente se sentiu constrangido com o povo Baré. Em todo momento a gente estava junto com as pessoas e as pessoas junto com a gente […]”, ele afirmou.

O médico recifense compartilhou ainda que encontrar pessoas LGBTQIAPN+ nos lugares que visitam passa uma segurança maior. Durante a visita à Reserva Mamirauá, por exemplo, o casal foi conduzido por um guia gay, o que os deixou mais tranquilos. “Encontrar os iguais nos lugares, qualquer que a gente esteja, deixa a gente mais seguro”.

Amanda e Nathália

Amanda e Nath navegando pelo rio de canoa

Pra Amanda e Nathália também foi a primeira vez realizando uma viagem de turismo de base comunitária e em uma comunidade tradicional como casal. A viagem, realizada em 2019, foi uma comemoração de 1 ano de namoro.

Apesar da data especial, as duas decidiram viver a imersão de forma discreta, como amigas. Como Nath relatou, o medo inicial era de viajarem sozinhas. “Além da questão de gênero, tem essa questão da sexualidade também.”, ela relatou.

Mesmo com essa preocupação, a fotógrafa mineira compartilhou que a experiência não teve nenhuma situação desagradável ou de preconceito. “Fomos super bem recebidas e super bem acolhidas”, ela compartilhou.

Orgulho e ancestralidade: roda de conversa com o povo Baré

Na semana passada, realizamos uma roda de conversa para conscientizar comunitárias e comunitários que estão envolvidos com o turismo buscando garantir uma recepção inclusiva e respeitosa a todas as pessoas que embarcam nas vivências através da Braziliando.

A conversa foi organizada e conduzida pelo Lucas Oliveira, da equipe Braziliando, que é um homem gay e já conhece boa parte das pessoas da comunidade. Uma de nossas preocupações era trazer esse conteúdo de uma forma leve e próxima da realidade do povo Baré, por isso, usamos alguns paralelos, como a noção de comunidade Baré e comunidade LGBTQIAPN+, o Nheengatu (idioma usado pelos Baré), a vestimenta tradicional dos indígenas, entre outros.

Ali, compartilhando o computador ou pelo celular em cada uma de suas casas, as pessoas envolvidas com as atividades da vivência Amazônia Baré puderam conhecer alguns cuidados essenciais na hora de receber viajantes LGBTQIAPN+.

A conversa trouxe algumas palavras e expressões que devem ser eliminadas e contou um pouco sobre essas diversas vivências e as necessidades particulares de cada uma delas.

Pra sentir o calor amazônico

Neste mês, em homenagem ao Dia do Orgulho e ao Dia dos Namorados, criamos uma promoção especial para casais de todas as orientações, gêneros e cores. Reservando a Amazônia Baré para você e para a pessoa amada, vocês garantem 10% de desconto no valor da vivência por viajante.

Já pensou em vocês curtindo um pôr do sol navegando de canoa pelo rio, provando os sabores amazônicos, aprendendo sobre o modo de vida indígena, apreciando a beleza da floresta? Entre em contato com a gente através do e-mail: discover@braziliando.com ou preencha o formulário de interesse na página da Amazônia Baré.

Entrada da comunidade

Dia dos Povos Indígenas: que tal descobrir o preconceito do “Dia do Índio”?

Na Semana Indígena Braziliando vamos falar sobre a importância do Dia dos Povos Indígenas e de como podemos ressignificar essa data, trazendo debates, informações e experiências conectados à realidade indígena e que valorizem a diversidade sociocultural dos povos originários. (Re)Descubra o “Dia do Índio” e vem com a Braziliando apoiar comunidades tradicionais.

“Índio”: uma visão de preconceito

“Pessoa de cabelos lisos, pele morena, que mora na floresta e usa penas e pinturas corporais pelo corpo nu. Falante de uma língua estranha e dona de uma cultura exótica. Caçadores, selvagens e incivilizados”.

Esse é o imaginário de muitas pessoas quando falamos sobre os povos indígenas. A imagem do “índio” ainda hoje está presente nas escolas, na mídia e na cultura não-indígena. Nos livros de Geografia, por exemplo, há generalizações e uma ausência da questão indígena atual.

E qual o problema do “índio”? Esse termo surgiu com a chegada dos colonizadores na América e seu primeiro contato com os povos originários, através de um olhar cheio de preconceito e desinformação. Esse termo não deve ser usado para se referir aos povos indígenas e, desde julho do ano passado, há uma lei que altera o nome do “Dia do Índio”. Pra resumir, podemos citar a fala do escritor, professor e ativista indígena, Daniel Munduruku.

“Eu não sou índio e não existem índios no Brasil. Essa palavra não diz o que eu sou, diz o que as pessoas acham que eu sou. Essa palavra não revela minha identidade, revela a imagem que as pessoas têm e que muitas vezes é negativa”.

Daniel Munduruku

Além do uso desse termo, expressões populares, como “programa de índio” ou “índio é preguiçoso”, também reforçam o preconceito contra os povos originários e ajudam a fortalecer esse imaginário reducionista do que realmente são suas culturas.

Confira aqui outras expressões para não usar.

Povos Indígenas

Um país tão extenso quanto o nosso, tão diverso e com diferentes contextos, reflete sua pluralidade em seu povo. Se é difícil definirmos uma identidade brasileira, por que fazemos isso com os povos indígenas?

São mais de 1,4 milhão de indígenas, presentes nas 5 regiões do país e de mais de 300 etnias. São centenas de povos, com culturas, línguas e contextos diferentes, vivendo em aldeias e nas áreas urbanas, em toda parte do nosso território. No sul do país, por exemplo, vivem os Kaingang – um dos cinco povos indígenas mais populosos no Brasil.

De norte a sul, cada povo tem necessidades específicas e acabam encontrando em seu meio formas de resistir. Seja na arte, nos movimentos sociais, nas universidades, na literatura, na música ou na moda. Juntos lutam pela defesa de seus direitos, buscando uma sociedade mais inclusiva, diversa e tolerante.

Aqui no blog já mostramos algumas personalidades indígenas LGBTQIAP+ que estão usando a arte e as redes sociais para transformar a sociedade e manter a cultura ancestral pulsando.

A cultura brasileira é indígena. Nossa alimentação, nosso vocabulário, nossa música, nossa medicina e muitas outras áreas da nossa vida tiveram os saberes dos povos originários como inspiração e referência.

Que tal conferir o documentário “Diálogo entre dois mundos”? A série documental de 7 episódios mostra o encontro entre o historiador e fotógrafo, Cadu de Castro, com o Nhanderuí (líder espiritual), Egino Chaapeí, sobre os hábitos, as relações simbólicas e a religiosidade do povo Guarani.

Valorizando a cultura indígena através da conexão

Uma forma de mudar sua visão sobre os povos originários e descolonizar seu pensamento é buscar mais conhecimento. Amplie suas referências indígenas na literatura, na moda, na música, nas artes plásticas, etc. Procure experiências onde o saber e a cultura indígena sejam valorizados.

A Conexão Baré, por exemplo, visa contribuir com a valorização cultural apoiando o povo Baré na preservação da memória ancestral e fortalecendo o sentimento de orgulho e pertencimento. Na edição especial (Re)Nascimento, vamos ouvir a anciã da comunidade e o pajé compartilharem suas histórias e saberes sobre a gestação, o parto e o puerpério.

Pessoas de muita habilidade, fé e sinergia com a Mãe-Natureza. Fontes de saberes que perpassam gerações e guias da mente, do corpo e da alma. Em conjunto, compartilham um pouco do que já viram e viveram, nos inspirando e ensinando sobre o “nascer Baré”.

Escute os relatos de mães sobre suas experiências na aldeia e na cidade, conheça alguns ritos de proteção e cuidado com bebês, entenda como as plantas da floresta são usadas na promoção da saúde, faça perguntas e descubra um novo olhar para a vida.

A vivência acontecerá em maio, mês das mães. Saiba mais e inscreva-se aqui.

Que tal descolonizar nossa visão de mundo? Vem com a gente!

Orgulho

Por uma luta mais diversa: indígenas LGBTQIA+

Amor é Amor

Indígenas LGBTQIA+ vivem uma dupla exclusão e, muitas vezes, são invisibilizados pela sociedade. Mas estão ocupando as universidades, os museus, a indústria da música e diversos outros espaços em busca de respeito e reconhecimento.


Semana do Orgulho LGBTQIA+ na BRDO

Na última segunda, dia 28 de junho, foi comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. A Braziliando continua com sua programação dedicada à temática, buscando contribuir com a valorização da diversidade e promover diálogos inclusivos. Você pode conferir outras ações clicando aqui e conhecer o significado da sigla aqui.

A comunidade LGBTQIA+ luta coletivamente em busca dos mesmos direitos: o direito de amar e de ser quem se é. Mas existem outras demandas dentro da comunidade, igualmente urgentes e necessárias: mulheres que também lutam por igualdade de gênero, pessoas com deficiência que lutam por inclusão e pessoas negras e indígenas que também lutam pelo fim do racismo.

Essas questões são somadas à LGBTfobia e aumentam o sentimento de insegurança e a exclusão dessas pessoas na sociedade. Por isso, precisamos enxergar a imensa diversidade de realidades e pessoas que compõem a comunidade para uma luta realmente coletiva e plural, onde as individualidades de cada pessoa sejam respeitadas e celebradas.


Vamos falar sobre indígenas LGBTQIA+?

Para conhecermos um pouco destas outras lutas dentro do movimento, hoje falaremos sobre indígenas LGBTQIA+. Você conhece indígenas da comunidade? Você sabia que o primeiro caso registrado de homofobia brasileiro foi contra um indígena? Já pensou em como a pandemia afetou suas vidas?

Tibira

Sob o pretexto de “purificar a Terra do abominável pecado da sodomia”, o indígena Tibira foi o primeiro caso registrado de morte por homofobia no Brasil. Em 1614, o religioso francês Yves d’Évreux ordenou a prisão, tortura e execução de Tibira do Maranhão, que pertencia a etnia Tupinambá. Os indígenas usam o termo “tibira” para se referirem a homens homossexuais. 

Aos pés do antigo Forte de São Luís (MA), Tibira foi amarrado pela cintura à boca de um canhão e teve seu corpo destroçado. A crueldade de seu assassinato tinha o objetivo de servir de exemplo para quem estivesse presente, já que líderes de outras etnias indígenas foram convocados para assistirem sua execução, e de eternizar a punição, no livro “Histórias das Coisas Mais Memoráveis Acontecidas no Maranhão nos Anos de 1613-1614”.

Quem resgatou esta história e, hoje, luta para que ela ganhe mais visibilidade, foi o sociólogo, antropólogo e ativista do movimento LGBTQIA+, Luiz Mott. Em 2014, Mott publicou “São Tibira do Maranhão — Índio Gay Mártir” onde relata e contextualiza o caso, denunciando a imposição cultural dos colonizadores aos povos originários. Outro pesquisador que também aborda as consequências dessa imposição, é o antropólogo Estevão Fernandes em seu livro “Existe Índio Gay?: A Colonização das Sexualidades Indígenas no Brasil”.

A luta de jovens indígenas LGBTQIA+

A diversidade indígena é muito maior do que imaginamos: são mais de 800 mil pessoas em todo país, de 305 diferentes etnias e falando 274 línguas. Somada a esta riqueza cultural, existe uma infinidade de corpos, vivências e identidades dentro deste grupo.

A juventude indígena vem buscado incluir na discussão as pautas de gênero e sexualidade, mesclando com as demandas históricas de demarcação de terras e educação. O objetivo é ampliar a rede de proteção e apoio, trazendo indígenas LGBTQIA+ para dentro do movimento e pessoas não-indígenas integrantes da comunidade, como aliadas na luta indígena.

Unindo cinco etnias e jovens de sete estados, o Coletivo Tibira surgiu para afirmar a existência de LGBTQIA+ indígenas nas aldeias e nas cidades. O objetivo é criar um espaço seguro de discussão e acolhimento, orientando jovens indígenas LGBTQIA+ e fortalecendo o movimento.

A discriminação pode acontecer dentro das próprias aldeias e, em muitos casos, falta representatividade. E quando vão para centros urbanos — cursar uma universidade, por exemplo — também são alvos de preconceito. Tanaíra Silva, uma das criadoras do coletivo, defende que “os indígenas que vivem no contexto urbano são atravessados por uma lógica não indígena, somos transpassados por racismo e desqualificação, isso gera uma enorme dificuldade de se inserir”. 

Pandemia

De acordo com um estudo feito pelo coletivo VoteLGBT e pela Box1824, um escritório de cultura e inovação, sobre os impactos da pandemia na população LGBT+ brasileira, a população indígena está entre os grupos mais vulneráveis em relação à COVID-19. O estudo contou com a participação de 9 mil pessoas de todo Brasil e analisou os impactos na saúde emocional e na falta de fonte de renda, por exemplo.

Outro dado preocupante apontado pela pesquisa é que a taxa de desemprego entre pessoas LGBTQIA+ foi quase o dobro da média nacional registrada pelo IBGE, no primeiro trimestre deste ano. Cerca de 24% das pessoas entrevistadas perderam o emprego durante a pandemia.

O diagnóstico indica algumas possíveis ações para transformar essa realidade. Entre as estratégias, estão o fortalecimento das redes de apoio e a priorização de profissionais LGBT+ para trabalhos e oportunidades. Você também pode conhecer e ajudar alguns projetos aqui.

Indígenas LGBTQIA+ para conhecer

A imagem estereotipada de pessoas indígenas vêm se contrapondo às muitas personalidades indígenas atuais que usam sua voz para trazer mais visibilidade às suas lutas. Seja na arte, na música, na educação, na criação de conteúdo, podemos encontrar pessoas que estão sendo resistência e ocupando lugares muito importantes. Agora, vamos conhecer indígenas LGBTQIA+ que estão se destacando no cenário nacional.

Indígena LGBTQIA+: Uýra, por Hick Duarte
Artista indígena, bióloga e educadora. Criada por Emerson Pontes, Uýra consegue unir as lutas LGBTQIA+ e indígena ao debate da conservação da natureza. Atualmente, participa de uma exposição no Museu de Arte do Rio (MAR) com a performance fotográfica intitulada “A Última Floresta”, onde denuncia o desmatamento e o desaparecimento de espécies botânicas. Emerson defende “sou indígena mesmo habitando a cidade e a contemporaneidade”.

Foto: Hick Duarte

Indígena LGBTQIA+: Yacunã e seu desenho ao fundo
Yacunã é artista visual e uma das principais lideranças em defesa da causa indígena LGBTQIA+. A ativista, da etnia Tuxá, tem um extenso portfólio: foi uma das artistas da exposição “Véxoa: nós sabemos”, na Pinacoteca; também participou da exposição coletiva e virtual “Amar, verbo transitivo” e da exposição virtual “Um outro céu”. Através de ilustrações, colagens e desenhos, Yacunã começou a divulgar seu trabalho em suas redes sociais em 2019, falando sobre espiritualidade, memória e sabedoria das anciãs de seu povo.

Foto: Divulgação/Instagram @yacunatuxa

Indígena LGBTQIA+: Victor Reiz com folhas ao fundo
Victor Reiz, ou INDIO, é diretor criativo, fotógrafo e designer. Já trabalhou em diversas produções de projetos audiovisuais e com nomes importantes para a comunidade LGBTQIA+, como a drag Gloria Groove (A Caminhada e Bonekinha), Iza (Gueto e Let Me Be The One) e Gaby Amarantos (Vênus em Escorpião). Victor também é um dos responsáveis pelo Coletivo Tibira.

Foto: Divulgação/Instagram @victorreiz

Indígena LGBTQIA+: Laís Eduarda Tupinambá por Rayhata
Laís Eduarda Tupinambá é ativista dos direitos das mulheres indígenas e estudante de Humanidades na UFSB. Do povo Tupinambá de Olivença, Laís atua na gestão da Rede pelas Mulheres Indígenas, projeto que busca melhorar a realidade de mulheres indígenas do Nordeste, e é colaboradora no Projeto Papo de Índio, canal que discute gênero, diversidade e sexualidade indígena.

Foto: Rayhata

Indígena LGBTQIA+: Katú Mirim por Rodolfo Magalhães
Katú é atriz, rapper e fundadora do portal Visibilidade Indígena. Através das redes sociais, Katú Mirim conta sua jornada em busca de si mesma e suas raízes. Filha de aldeia e quilombo, resistência indígena na periferia, suas músicas falam de sua vida, da retomada de identidade, memória, racismo, gênero, espiritualidade e do todo que a faz ser quem é. Em 2021, criou a tag #Indigenasjobs com o intuito de promover uma ponte entre indígenas e o mercado de trabalho.

Foto: Rodolfo Magalhães

Estas pessoas são apenas alguns exemplos de indígenas LGBTQIA+ que estão ocupando diversos espaços e levando ambas as pautas para sociedade através de seus trabalhos. São pessoas que lutam diariamente contra o preconceito e que ajudam a construir uma sociedade mais diversa e inclusiva. A população indígena faz parte da história do Brasil e hoje você descobriu que faz parte da história do movimento LGBTQIA+ também.  


Tem interesse em se conectar com a cultura indígena? Conhecer suas histórias, sua gastronomia e artesanato? Conheça os indígenas Baré de uma forma imersiva, interativa e online. Vamos continuar apoiando comunidades tradicionais, através da valorização cultural e da geração de renda.