Retrospectiva Braziliando 2023

Mais um ciclo que se encerra e viemos celebrar as conquistas, os aprendizados e as pessoas que fizeram parte desse ano especial. Em 2023, recebemos um prêmio inédito, participamos de programas inspiradores, espalhamos nossas sementes em um novo destino e promovemos encontros marcantes. Vem conferir tudo o que rolou na Retrospectiva Braziliando!

O ano começou com uma grande surpresa: fomos premiadas com o United Earth Amazonia Award, o Nobel Verde. Além da emoção e felicidade em recebermos essa conquista, a noite da premiação também foi uma oportunidade de reafirmarmos nosso compromisso com a sustentabilidade e de celebrarmos com pessoas da comunidade e outros parceiros que ajudaram a construir a nossa história.

Fizemos conexões com pessoas, negócios e empresas que nos ajudaram a fortalecer nossa essência e contribuíram com nossa trajetória. A Braziliando foi um dos negócios mentorados no Programa Inovação Social para a Amazônia, realizado pelo Portal do Impacto e a Phomenta. Nossa sócia-fundadora, Ana Taranto, se inscreveu para o programa e passou por uma capacitação online. Das quase 300 pessoas que se inscreveram, apenas 10 com melhor engajamento e participação foram selecionadas para receber mentorias individuais. Foi uma experiência enriquecedora, que nos permitiu ter novos olhares e ampliar nossa rede de contatos.

Também fomos aprovadas para a primeira fase do programa de aceleração 100+ Labs Brasil, uma iniciativa da Ambev em parceria com a Parceiros pela Amazônia e USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) e executada pelo Quintessa, que une inovação e sustentabilidade. E agora, no final do ano, também fomos aprovadas na Aceleração EmbraturLAB #2! O programa de inovação é realizado pelo Turistech Hub, o hub líder em inovação no turismo brasileiro, e pela EmbraturLAB, o braço de inovação da Embratur.

Nossa sócia, Tereza Taranto, também se conectou com importantes instituições que atuam na região amazônica. Em uma visita de campo muito especial, Tê se reuniu com nossos parceiros indígenas para traçar o planejamento da vivência Amazônia Baré e conheceu novas comunidades e histórias.

Tivemos alguns encontros especiais neste ano! 🙌 Em abril, nos reunimos na “cidade maravilhosa” pra percorrer a trilha indígena do Jardim Botânico. Por lá vimos várias espécies de plantas presentes no cotidiano dos povos originários, como Samaúma, Manacá e Vitória-Régia, e ainda curtimos um momento de confraternização. Em 2023, também teve o Braziliando Cozinha! Juntamos virtualmente o nosso time pra fazer uma moqueca de banana e um delicioso pavê de frutas. Qual será nossa próxima aventura gastronômica?

E as campanhas de 2023?! Quem nos acompanha no Instagram viu nossa missão de retirar o plástico de uso único da nossa rotina na Semana Sem Plástico, pra mostrar que #NossoPlanetaNãoÉDescartável. Também falamos sobre diversidade e inclusão na Semana do Orgulho, com direito a roda de conversa virtual e muita reflexão!

Outra ação importante foi a Conexão Baré Seca Amazônica, que alertou sobre a forte estiagem no Amazonas e arrecadou doações para nossos parceiros indígenas Baré. Por causa da seca, a vivência Amazônia Baré precisou ser suspensa.

Neste ano, também conseguimos realizar um desejo antigo de atuar em outras regiões e com novas comunidades. Atravessando o Brasil, rumo a Mata Atlântica, realizamos o nosso encontro de equipe no feriado da Consciência Negra em um quilombo. Apesar de conhecermos a região há bastante tempo, foi em 2022 que a Ana conheceu a comunidade e desde então começamos a desenhar essa parceria.

Junto com uma historiadora antirracista, Odara Philomena, vivemos uma imersão em um quilombo com mais de 200 anos de história e resistência. Além da comunidade ter conduzido atividades culturais e na natureza para a gente imergir no seu modo de vida, Odara trouxe questionamentos que contribuíram para a valorização da cultura negra e a quebra de preconceitos.

A Vivência no Quilombo é uma experiência transformadora e já tem data para acontecer em 2024 – de 30/05 a 02/06. Nessa imersão, você escuta as histórias da comunidade, prova as delícias da região, mergulha no rio e caminha em meio a Mata Atlântica, participa de oficinas e até de uma roda de jongo! Preencha a ficha de interesse para receber mais informações!

E você também pode embarcar – em qualquer época do ano e sem a necessidade de fechar um grupo – na vivência Amazônia Baré. Nessa jornada pela floresta e a cultura indígena, você se hospeda em uma pousada familiar, vivencia atividades do dia a dia local (como navegar de canoa ou caminhar pela mata), ouve as histórias e entra em contato com a sabedoria ancestral dos Baré.

Nossa gratidão a todas as pessoas que fizeram parte desses momentos e que fazem parte da nossa história. Neste ano, a Braziliando completou 7 anos de existência e nossa trajetória não seria a mesma sem as parcerias que construímos nesse caminho.

Nosso desejo para o próximo ano? Continuar promovendo a mudança que queremos ver no mundo! Bora com a gente nessa missão?

O que as indígenas Baré nos ensinam sobre a Amazônia

No dia 05 de setembro comemoramos duas datas muito importantes: o Dia da Amazônia e o Dia Internacional das Mulheres Indígenas. Muito se fala da reciprocidade, do respeito e afeto entre as protetoras e a floresta, mas as mulheres indígenas também são exemplos de criatividade, ancestralidade, ciência, poesia e solidariedade. Pra homenagear as mulheres indígenas do mundo, decidimos falar sobre nossas parceiras do povo Baré, que contam um pouco sobre a Amazônia através de suas vivências.

Amazônia: substantivo feminino

A maior floresta tropical do mundo abriga uma diversidade tão significativa quanto sua dimensão. Ocupando 60% do território brasileiro, a floresta é tão cheia de vida que uma nova espécie é encontrada quase todo dia. Cerca de 10% das espécies de plantas e animais conhecidos no mundo estão na Amazônia, fora a grande quantidade de espécies que ainda nem foram catalogadas.

As mulheres são maioria em toda a Amazônia Legal. Responsáveis pelo trabalho de cuidado – da família, do território, da biodiversidade e dos saberes tradicionais – elas apoiam na conservação da floresta, através da preservação das sementes e da grande variedade de espécies alimentícias e medicinais cultivadas.

Na aldeia onde vive o povo Baré, as mulheres são protagonistas de vários projetos que acontecem na comunidade. Na coordenação do turismo e das vivências da Braziliando, nos projetos de conservação da biodiversidade, liderando atividades e protegendo saberes ancestrais. Vem com a gente conhecer algumas delas!

Mulheres Indígenas Baré

Dona Ugulina

A anciã da comunidade é uma mulher forte, sábia e sorridente. Parteira da aldeia, carrega os ensinamentos da mãe e de tantas outras mulheres indígenas que a antecederam para realizar esse lindo ofício. Mãe de 10 filhos, avó e bisavó, ela viveu a experiência de três partos sozinha na aldeia. Mulher de coragem, que aos 70 anos esbanja disposição para ensinar e aprender, participando de duas das vivências online da Braziliando: a Conexão Baré e a Conexão Baré (Re)Nascimento.

Aos 19 anos, a Kunhã suri (mulher alegre em Nheengatu), viu a mãe realizar o parto do neto e já sentiu que conseguiria seguir seus passos. Depois fez 5 cursos fora da aldeia para aperfeiçoar a arte do partejar e ajudar as mulheres da região. Difícil mesmo é contar o número de partos que ela já fez em todos esses anos! Dona Ugulina confessa que já perdeu a conta.

Na última vivência online, a anciã recebeu uma pergunta sobre como orientar uma parturiente que tem medo do momento da chegada do bebê. Ela disse “a gente tem que ser mulher”, uma resposta simples para quem entende há muito tempo que resiliência e força, além de substantivos femininos, são qualidades das mulheres.

Rosy

Filha da Dona Ugulina e mãe de 6 filhos, Rosimeire é uma das coordenadoras do turismo na comunidade. Rosy é sinônimo de determinação e dedicação. Abraçando diversos projetos e com muita vontade de aprender, ela também é agente ambiental e coordena de forma voluntária o projeto de monitoramento de quelônios na comunidade.

Voltado para a conservação das tartarugas amazônicas, esse trabalho exige um cuidado especial durante alguns meses do ano, como coletar os ovos, observar os filhotes e depois soltá-los novamente na natureza. A Rosy representa a calma da floresta, ela sabe da importância de esperar (e respeitar) o tempo da natureza, de observar cada detalhe com atenção, pois a Amazônia é surpreendente!

Rosy também contribui para a união da ciência com os saberes tradicionais, ambos como conhecimentos fundamentais para a sustentabilidade e para a vida na floresta. Você descobre mais sobre o seu trabalho, o projeto de conservação e as tartarugas amazônicas na vivência online Conexão Baré Quelônios.

Gessiane (Paty)

Paty é hospitalidade. A anfitriã da vivência Amazônia Baré recebe em sua casa/pousada familiar viajantes de vários lugares do mundo e de culturas diferentes. Ela é, talvez, a dose mais presente da cultura Baré na vida de quem embarca nessa experiência amazônica.

Como a floresta, ela abriga e acolhe. Faz de seu lar, o lar de outras pessoas, mesmo que apenas por alguns dias. Como o rio, sua morada é leito para pessoas que buscam mergulhar em um novo mundo. A mãe da Helloyze acaba arrumando várias “crias temporárias” quando recebe viajantes e compartilha um pouco de todo esse afeto com essas pessoas.

Também faz parte da coordenação do turismo na comunidade, administra a pousada familiar e está prestes a iniciar um novo ciclo: a universidade.

Juliana

A Ju, que já foi anfitriã da Amazônia Baré, hoje é uma das responsáveis pela alimentação de quem embarca na vivência. Traduzindo a biodiversidade amazônica na mesa, Ju alimenta corpo e alma de viajantes. Os ingredientes amazônicos são ricos em nutrientes e em histórias, carregam tradições e modos particulares de preparo que vão além do prato.

Na vivência, ela também realiza a oficina de artesanato, ensinando a arte de confecção das biojóias. As peças, que por si só já trazem as cores e formas da floresta, juntas contam novas histórias e levam a Amazônia para outras cidades e até países.

Ju transforma o que a floresta tem de melhor pra oferecer em pratos e peças maravilhosos. É a materialização de toda a beleza que a floresta guarda em saberes, sabores e arte.

Para todas as mulheres indígenas, dentro e fora da floresta

Por aqui o sentimento é de gratidão a todas as nossas parceiras indígenas do povo Baré, que vêm trilhando o caminho do turismo sustentável com a gente. Mas celebrar o Dia Internacional da Mulher Indígena nos convida a sair da comunidade e até a sair da Amazônia, porque elas estão espalhadas por todo Brasil e pelo mundo.

Ocupando diversos espaços, essas mulheres são referência para tantas outras jovens indígenas e são inspiração para toda sociedade. Na política, como Sonia Guajajara e Célia Xakriabá; na moda, como Dayana Molina e We’e’ena Tikuna; na literatura, como Eliane Potiguara e Márcia Kambeba; nas artes, como Arissana Pataxó e Katú Mirim. Juntas elas promovem mudanças e trazem seus saberes ancestrais pro presente, cientes de que estão ajudando a construir um futuro melhor.

Participe de uma das vivências da Braziliando e conheça a Amazônia com as pessoas que ajudam a cuidar da floresta.

Marco temporal: o Brasil é terra indígena

Qual a importância das Terras Indígenas? Como o PL 490 (ou PL do Marco Temporal) pode impactar a vida dos povos originários e o meio ambiente como um todo? Vem com a gente na Semana do Meio Ambiente da Braziliando pra entender essas questões!

O Brasil é terra indígena

Dentre as poucas coisas que aprendemos sobre os povos originários na escola, um fato é incontestável: indígenas, de diversas etnias, já ocupavam o território brasileiro antes da chegada (ou invasão) dos europeus.

Estima-se que 3,5 milhões de indígenas viviam no nosso país antes de 1500. Esse número foi reduzido drasticamente com o passar dos anos e seu território também. Se antes tinham todo o Brasil, hoje a população indígena possui cerca de 13% dessa área para viver.

Entrada da comunidade
Fotógrafa: Nathália Segato

Pra falar de tempo precisamos falar dos mais de 5 séculos de violência contra os povos originários em relação aos pouco mais de 60 anos da primeira terra indígena reconhecida legalmente, da Constituição de 88, que reconheceu os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, e dos 40 anos do primeiro indígena eleito no Brasil.

Portanto, o tempo não é o mesmo para as populações originárias. Apesar de resistirem por mais de 500 anos contra as diversas violências que enfrentam, suas conquistas políticas são recentes.

Um marco temporal importante sobre os povos indígenas brasileiros: são 40 mil anos vivendo nesse país.

Terra: uma questão de perspectiva

Fotógrafa: Nathália Segato

Já parou pra pensar nos vários significados e interpretações dessa palavra? Se escrevemos o “T” maiúsculo, podemos falar do nosso planeta, mas podemos também nos referir a apenas um grão. Da mesma forma, a noção de terra pode mudar dependendo de fatores sociais, culturais e econômicos.

Para os povos indígenas, por exemplo, o vínculo com a terra faz parte de suas identidades. É uma conexão sagrada. Algumas etnias acreditam em deuses ligados a elementos da natureza, outras que a natureza é o lugar de descanso dos antepassados. Contudo, de uma forma geral, os povos originários entendem que a natureza é intrínseca à suas vidas.

Da água que mata a sede e irriga a plantação, das plantas que cuidam da saúde e nutrem o corpo, o rio que refresca e lava a alma, a terra que abriga e guarda histórias. Portanto, a demarcação das Terras Indígenas protege esses territórios de possíveis invasões e ocupações de não-índígenas, mas também protege suas culturas, tradições e modos de vida.

A terra também abriga um valor econômico. Para agricultores, pecuaristas, mineradoras, garimpeiros e empreiteiras as terras são oportunidade de negócios. Porém, o problema é que geralmente suas chegadas são acompanhadas de desmatamento, inundações, poluição, extinção de espécies, entre outras mazelas.

Como esses processos são, muitas vezes, irreversíveis, é necessário procurar um lugar “intacto” para seguir com as atividades. Diversas terras indígenas, por exemplo, já estão no radar de mineradoras sob o falso argumento de serem territórios que comprometem a produtividade agropecuária, que ocupa 41% do território brasileiro.

Vale a pena ler essa carta de um indígena norte-americano para o presidente dos EUA após receber uma proposta de compra das terras de seu povo.

PL 490 – o PL do Marco Temporal

O Projeto de Lei PL 490/2007 defende que só podem ser demarcadas as terras indígenas que eram tradicionalmente ocupadas ou que já estavam em disputa judicial na data da promulgação da Constituição de 1988.

O projeto impede a ampliação de terras indígenas já existentes e visa liberar o que hoje é proibido: atividade agropecuária e extrativa, garimpo e grandes empreendimentos, como estradas e hidrelétricas. O projeto ainda autoriza o cultivo de transgênicos em Terras Indígenas, o que é proibido. Confira mais sobre o impacto do PL.

As Terras Indígenas são uma forma de (tentar) reparar o que historicamente tanto se negou a essa população: sua moradia, sua cultura, sua subsistência. O atraso na garantia de seus direitos não deve justificar uma nova retirada de seus territórios e a ameaça de suas vidas.

Além disso, elas são as mais eficazes para manutenção dos estoques de carbono, ajudando a regular o clima e evitar que o aquecimento da Terra seja ainda mais intenso. Elas também contribuem para a conservação da biodiversidade, já que 29% do território ao redor das terras indígenas está desmatado, enquanto dentro delas o desmatamento é de apenas 2%.

Aqui você confere como funciona o processo legislativo e nessa reportagem do Estadão entender mais sobre o tema.

Mudando visões de mundo

No site da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) você confere algumas formas de ajudar. A Apib é uma instância de referência nacional do movimento indígena no Brasil.

De uma forma geral é preciso quebrar estereótipos e conhecer verdadeiramente os povos indígenas brasileiros. Nós acreditamos que através do turismo responsável podemos mudar visões de mundo e promover encontros transformadores.

Através da vivência online Conexão Baré, por exemplo, já promovemos um diálogo entre o saber tradicional e o saber científico, levando o conhecimento do povo Baré sobre sustentabilidade, conservação e empreendedorismo para instituições de ensino.

Conhecendo a realidade local, seus desafios e suas formas de vida podemos desconstruir paradigmas e preconceitos, além de contribuir com o fortalecimento cultural.

Entrada da comunidade

Dia dos Povos Indígenas: que tal descobrir o preconceito do “Dia do Índio”?

Na Semana Indígena Braziliando vamos falar sobre a importância do Dia dos Povos Indígenas e de como podemos ressignificar essa data, trazendo debates, informações e experiências conectados à realidade indígena e que valorizem a diversidade sociocultural dos povos originários. (Re)Descubra o “Dia do Índio” e vem com a Braziliando apoiar comunidades tradicionais.

“Índio”: uma visão de preconceito

“Pessoa de cabelos lisos, pele morena, que mora na floresta e usa penas e pinturas corporais pelo corpo nu. Falante de uma língua estranha e dona de uma cultura exótica. Caçadores, selvagens e incivilizados”.

Esse é o imaginário de muitas pessoas quando falamos sobre os povos indígenas. A imagem do “índio” ainda hoje está presente nas escolas, na mídia e na cultura não-indígena. Nos livros de Geografia, por exemplo, há generalizações e uma ausência da questão indígena atual.

E qual o problema do “índio”? Esse termo surgiu com a chegada dos colonizadores na América e seu primeiro contato com os povos originários, através de um olhar cheio de preconceito e desinformação. Esse termo não deve ser usado para se referir aos povos indígenas e, desde julho do ano passado, há uma lei que altera o nome do “Dia do Índio”. Pra resumir, podemos citar a fala do escritor, professor e ativista indígena, Daniel Munduruku.

“Eu não sou índio e não existem índios no Brasil. Essa palavra não diz o que eu sou, diz o que as pessoas acham que eu sou. Essa palavra não revela minha identidade, revela a imagem que as pessoas têm e que muitas vezes é negativa”.

Daniel Munduruku

Além do uso desse termo, expressões populares, como “programa de índio” ou “índio é preguiçoso”, também reforçam o preconceito contra os povos originários e ajudam a fortalecer esse imaginário reducionista do que realmente são suas culturas.

Confira aqui outras expressões para não usar.

Povos Indígenas

Um país tão extenso quanto o nosso, tão diverso e com diferentes contextos, reflete sua pluralidade em seu povo. Se é difícil definirmos uma identidade brasileira, por que fazemos isso com os povos indígenas?

São mais de 1,4 milhão de indígenas, presentes nas 5 regiões do país e de mais de 300 etnias. São centenas de povos, com culturas, línguas e contextos diferentes, vivendo em aldeias e nas áreas urbanas, em toda parte do nosso território. No sul do país, por exemplo, vivem os Kaingang – um dos cinco povos indígenas mais populosos no Brasil.

De norte a sul, cada povo tem necessidades específicas e acabam encontrando em seu meio formas de resistir. Seja na arte, nos movimentos sociais, nas universidades, na literatura, na música ou na moda. Juntos lutam pela defesa de seus direitos, buscando uma sociedade mais inclusiva, diversa e tolerante.

Aqui no blog já mostramos algumas personalidades indígenas LGBTQIAP+ que estão usando a arte e as redes sociais para transformar a sociedade e manter a cultura ancestral pulsando.

A cultura brasileira é indígena. Nossa alimentação, nosso vocabulário, nossa música, nossa medicina e muitas outras áreas da nossa vida tiveram os saberes dos povos originários como inspiração e referência.

Que tal conferir o documentário “Diálogo entre dois mundos”? A série documental de 7 episódios mostra o encontro entre o historiador e fotógrafo, Cadu de Castro, com o Nhanderuí (líder espiritual), Egino Chaapeí, sobre os hábitos, as relações simbólicas e a religiosidade do povo Guarani.

Valorizando a cultura indígena através da conexão

Uma forma de mudar sua visão sobre os povos originários e descolonizar seu pensamento é buscar mais conhecimento. Amplie suas referências indígenas na literatura, na moda, na música, nas artes plásticas, etc. Procure experiências onde o saber e a cultura indígena sejam valorizados.

A Conexão Baré, por exemplo, visa contribuir com a valorização cultural apoiando o povo Baré na preservação da memória ancestral e fortalecendo o sentimento de orgulho e pertencimento. Na edição especial (Re)Nascimento, vamos ouvir a anciã da comunidade e o pajé compartilharem suas histórias e saberes sobre a gestação, o parto e o puerpério.

Pessoas de muita habilidade, fé e sinergia com a Mãe-Natureza. Fontes de saberes que perpassam gerações e guias da mente, do corpo e da alma. Em conjunto, compartilham um pouco do que já viram e viveram, nos inspirando e ensinando sobre o “nascer Baré”.

Escute os relatos de mães sobre suas experiências na aldeia e na cidade, conheça alguns ritos de proteção e cuidado com bebês, entenda como as plantas da floresta são usadas na promoção da saúde, faça perguntas e descubra um novo olhar para a vida.

A vivência acontecerá em maio, mês das mães. Saiba mais e inscreva-se aqui.

Que tal descolonizar nossa visão de mundo? Vem com a gente!

Braziliando é vencedora de prêmios de turismo sustentável

A sustentabilidade é um pilar essencial da atuação da Braziliando. Nesta ano de 2022, uma de nossas vivências – a viagem virtual Conexão Baré – foi ganhadora de dois prêmios de relevância nacional e internacional para o turismo sustentável: o Prêmio de Turismo Responsável WTM Latin America e o Prêmio Braztoa de Sustentabilidade.

Vem com a gente descobrir um pouco mais sobre esse importante marco na nossa história!

Turismo sustentável: uma preocupAÇÃO da Braziliando

Ana e Tê (Braziliando) abraçadas com os comunitários na entrada da aldeia.
Ana e Tereza, sócias da Braziliando, com os indígenas de uma comunidade parceira.

Nossa missão de promover experiências responsáveis e autênticas sempre foi pautada na preocupação com a comunidade, viajantes e com o meio ambiente. Além de oferecer vivências conectadas com a realidade local e que respeitam as tradições e o cotidiano dos moradores, buscamos incentivar a valorização de sua cultura (pelo viajante e pelo próprio comunitário) e gerar oportunidades.

O propósito é permitir novos olhares, quebra de paradigmas e uma nova visão de mundo, pautada na solidariedade, na harmonia com o meio ambiente e as pessoas, na simplicidade e no respeito.

Esses importantes prêmios reconhecem o que buscamos promover desde 2017, quando começamos a atuar com turismo sustentável na AMAzônia.

Prêmio Turismo Responsável WTM Latin America

Fomos uma das três iniciativas brasileiras finalistas no Prêmio Turismo Responsável WTM Latin America e Gold Winner na categoria Sustaining Employees and Communities through the Pandemic (Apoio a funcionários e comunidades durante a pandemia).

Prêmio WTM Turismo Responsável. Ana e Tereza abraçadas no palco enquanto Ana segura o prêmio com uma das mãos. Ao fundo, uma tela exibe um slide anunciando a vitória da Conexão Baré na categoria "Apoio a funcionários durante a pandemia".
Sócias da Braziliando recebendo o prêmio pela experiência Conexão Baré.

A cerimônia aconteceu em abril, em São Paulo, e foi a realização de um sonho. Termos a Conexão Baré como ganhadora, entre 14 iniciativas finalistas de empresas de vários lugares do mundo, é uma grande honra e mostra que estamos no caminho certo.

Prêmio Braztoa de Sustentabilidade

Junto a conquista que fez nossos corações transbordarem, fomos surpreendidas por mais uma: a Conexão Baré foi também vencedora do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade.

Nesta edição, a premiação procurou reconhecer iniciativas que superaram os desafios enfrentados pelo setor frente à pandemia da COVID-19. O juri avaliou se os participantes, para além dos resultados econômicos, desenvolveram iniciativas sustentáveis em seus projetos e impactaram positivamente as pessoas e o planeta.

Prêmio Braztoa de Sustentabilidade. O tema dessa edição foi "Resiliência". O troféu representa uma árvore, feito em fibra de tom marrom claro/bege.

A resiliência não foi apenas da Braziliando, que continuou apoiando os comunitários (através da geração de renda e valorização cultural) e operando na pandemia, mas também do povo Baré que fez da internet uma ferramenta de aprendizado e multiplicadora de oportunidades.

E depois de tanta boa notícia, a Braziliando ainda foi selecionada pelo júri da premiação, dentre as 5 vencedoras, para ser presenteada com a produção de um vídeo do Ministério do Turismo apresentando a iniciativa. Aguenta coração!

Confira aqui a cerimônia da premiação na íntegra.

Turismo Sustentável e Protagonismo indígena

Além de terem cocriado a Conexão Baré com a Braziliando, os comunitários da aldeia estão envolvidos no planejamento e condução de cada edição. Após um ano de viagens online, notamos que a participação dos indígenas da comunidade no turismo aumentou e que a vivência virtual atraiu pessoas de todas as idades e gêneros.

O protagonismo Baré demonstra que além de manterem a floresta em pé, usando os recursos de forma sustentável para geração de renda e empoderamento, os povos tradicionais também utilizam a tecnologia como aliada no compartilhamento de sua cosmovisão e no fortalecimento da sua cultura.

Vem com a gente valorizar a cultura tradicional e gerar impactos positivos embarcando na Conexão Baré!

Amazônia

AMAzônia: a floresta e as mulheres indígenas

A Amazônia sobrevive a diversos processos de esquecimento e destruição. A região enfrentou diversos apagamentos — linguístico, cultural e histórico — e seus habitantes sofreram violências físicas e simbólicas que reverberam até os dias atuais. Entretanto, alguns grupos locais, como as mulheres indígenas, resistem e lutam para mudar esse cenário. Neste Dia da Amazônia e Dia Internacional das Mulheres Indígenas, a Braziliando compartilha a importância desse lugar que nos acolheu e que agora acolhe nossos viajantes, na missão de gerar outras visões de mundo e transformações positivas.

A Floresta Amazônica é a maior floresta tropical do mundo, tanto por sua extensão territorial quanto pela sua rica biodiversidade. Segundo dados do Arpa (Programa Áreas Protegidas da Amazônia), são mais de 600 tipos diferentes de habitat (terrestres e aquáticos) com cerca de 45 mil espécies de plantas e animais vertebrados. Toda essa riqueza ocupa aproximadamente 6,7 milhões de km², sendo que 60% desse total se encontra em território brasileiro. 

A importância da Amazônia é reconhecida internacionalmente e a floresta abrange cerca de 10% de toda a diversidade do planeta. Além disso, ela tem um papel fundamental para a estabilidade climática mundial, já que as intensas trocas de gases e vapor d’água que acontecem lá, fornecem serviços ambientais importantíssimos ao redor de todo o globo. É também na região que se encontra o maior rio do mundo em volume de água, o Rio Amazonas, e a maior bacia hidrográfica do planeta: a bacia amazônica. São 25 mil quilômetros de rios navegáveis!

Imagem de um rio com água escura sob um céu com muitas nuvens. No canto direito, um pedaço da floresta.
Fotógrafo: Vivek Gandhi

Algumas espécies de animais, como peixes de água doce, aves e primatas, são mais diversas na Amazônia do que em qualquer outro lugar no mundo. Quando falamos no bioma amazônico, estamos falando de 49% do território nacional (segundo o IBGE), por isso, devemos considerar que boa parte dessa biodiversidade ainda é pouco conhecida pelo ser humano.

Uma relação de troca

A floresta proporciona segurança alimentar e saúde para muitas famílias. As frutas amazônicas, por exemplo, além de auxiliarem na prevenção e cura de doenças, também oferecem nutrientes importantes. A castanha possui níveis de proteína semelhantes ao leite de vaca e a polpa de buriti possui uma das maiores quantidades de vitamina A entre todas as plantas do mundo. 

Imagem de uma mão tocando o tronco de uma árvore. Ao fundo, é possível ver as sombras de outras árvores e a luz do sol
Fotógrafa: Nathália Segato

Os povos originários fazem parte da floresta. Com um conhecimento ancestral, eles possuem um grande domínio sobre as peculiaridades do território e vêm, durante todo esse tempo, transformando positivamente a abundância e distribuição das árvores. São mais de 180 povos indígenas e outros grupos isolados vivendo neste lugar.

Mas a Amazônia também é a casa de seringueiros, quilombolas, ribeirinhos, pescadores artesanais, agricultores familiares, piaçabeiros (extrativistas da fibra da palmeira da piaçava), peconheiros (extrativistas de açaí) e muitas outras populações tradicionais. 

Ver como esses grupos aliam seus conhecimentos a seus modos de vida e contribuem para a sustentabilidade na região é transformador. Na Vivência Baré, você pode vivenciar o dia-a-dia amazônico, conhecer sobre os costumes locais, navegar pelo rio, se aventurar na mata e presenciar de perto toda a beleza e riqueza desse lugar. Atualmente, a experiência está suspensa devido à pandemia, mas você pode preencher o formulário de reserva em nosso site e receber em primeira mão as atualizações sobre a retomada das atividades presenciais quando acontecerem.


A preservação da Amazônia é importante para a biodiversidade brasileira, é uma questão de saúde pública, uma preocupação mundial, uma necessidade econômica e, principalmente, uma urgência para os povos e comunidades tradicionais.

Amazônia: substantivo feminino

Somos filhas das ribanceiras
Netas de velhas benzedeiras
Deusas da mata molhada
Temos no urucum a pele encarnada.
Lavando roupa no rio, lavadeiras
No corpo um gingado de carimbozeiras
Temos a força da onça pintada
Lutamos pela aldeia amada.

Trecho do Poema de Márcia Wayna Kambeba

Hoje, dia 5 de setembro, comemoramos também o Dia Internacional das Mulheres Indígenas. Das Icamiabas, as primeiras guerreiras brasileiras, até Cunhaporanga, a jovem indígena com mais de 2 milhões de seguidores no TikTok, as mulheres indígenas são exemplo de força, cuidado e sustentabilidade. 

Antigamente, as mulheres indígenas eram vistas como geradoras e guardiãs dos mitos e das lendas, hoje, discute-se e procuram evidenciar o papel delas na luta dos povos indígenas e na preservação da Amazônia. Com mais participação nas decisões coletivas e ocupando lugares de destaque e liderança, elas são resistência e referência para outras mulheres e para sociedade. Joenia Wapichana, a primeira mulher indígena eleita deputada federal; Kokoti Xikrin, a primeira mulher cacique do povo Xikrin; Madalena Caramuru, a primeira mulher alfabetizada no Brasil era indígena; são apenas alguns exemplos de mulheres indígenas potentes.

Imagem de duas moradoras da comunidade Baré na beira do rio, trabalhando em uma superfície de madeira com alguns utensílios.
Fotógrafa: Nathália Segato

As mulheres exercem um papel poderoso no conhecimento e no uso do patrimônio florestal não-madeireiro. Suas relações com a água, com os animais e com as plantas, demonstram um cuidado com a natureza e preocupação com sua conservação. Elas não são as “jardineiras do mundo”, mas as atividades que exercem são muito próximas do conceito de equilíbrio da relação natureza-sociedade.  

Que esta data seja lembrada e celebrada como a representação da luta para que estes corpos, territórios e espíritos não sejam mais violados e oprimidos.

Mulheres Indígenas Baré

Não poderíamos deixar de homenagear também  as mulheres indígenas de Nova Esperança, comunidade parceira da Braziliando. Além de exemplos de força e cuidado, elas nos inspiram e nos ensinam constantemente.

A todas as mulheres Baré nossa gratidão por esses anos de aprendizado e colaboração. A sabedoria, determinação e alegria de vocês são transformadoras e carregam o verdadeiro significado de ser Amazônia.

Imagem de três mulheres da comunidade Baré na varanda de uma casa. Na esquerda, uma mulher segurando um bebê, no centro uma criança e à direita, uma adolescente segurando o batente de madeira azul da entrada da casa.
Fotógrafa: Amanda Magalhães

Gostou de conhecer um pouco sobre as mulheres de Nova Esperança? Você pode conhecer mais mulheres inspiradoras e toda a comunidade indígena Baré através da nossa viagem online. Leia mais sobre a Conexão Baré e saiba como participar do próximo embarque.

Conexão Baré: viagem online para Amazônia

Conexão Baré: viagem online para a Amazônia

No ano passado, compartilhamos as medidas que adotamos para garantir a segurança de nossos parceiros indígenas da etnia Baré e de viajantes. Em meio à crise, co-criamos com a comunidade uma viagem online para que as pessoas pudessem conhecer sua cultura e seu cotidiano e pudéssemos continuar apoiando e valorizando os povos da Amazônia. Conheça a Conexão Baré!

Imagem da entrada da comunidade, sob a perspectiva de quem olha de dentro dela, com algumas árvores e o rio. Ao fundo, o pôr do sol reflete nas águas do rio.
Foto: Luísa Ferreira

Motivação

Mesmo com as viagens presenciais suspensas desde março de 2020, mantivemos o contato com os representantes da aldeia, que vinham compartilhando conosco os desafios surgidos (ou acentuados) pela pandemia. 

Além da dificuldade de acesso à alimentação e serviços de saúde, outro forte impacto foi na economia da aldeia. Com a paralisação do turismo e a diminuição da venda dos artesanatos, as famílias estavam tendo dificuldades em complementar suas rendas.

Com muita reflexão e colaboração, buscamos soluções para apoiá-los e mantermos a Braziliando em operação. Como vocês sabem, somos um negócio de impacto social que tem como missão promover transformações positivas através de experiências autênticas e responsáveis.

Dentre as várias ideias e projetos que emergiram de nossas conversas, decidimos priorizar o desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária (TBC) no formato online, para seguirmos apoiando a comunidade através da geração de renda e da valorização cultural. 

Desta forma, co-criamos com a comunidade a Conexão Baré: uma viagem imersiva, interativa e online que conecta os viajantes da Braziliando com o povo Baré da Amazônia. 

Conexão Baré

Imagem mostra um computador ao centro com a imagem de um comunitário indígena entre algumas árvores da aldeia. Ao fundo do computador há uma janela aberta exibindo as folhas das árvores.

Nesta experiência, o viajante virtual tem a possibilidade de visitar diferentes espaços da aldeia e participar de várias atividades do dia a dia local, para imergir na realidade de uma comunidade ribeirinha amazônica. 

Através dela é possível, por exemplo, descobrir sobre o processo de confecção do artesanato, se encantar com as receitas típicas de dar água na boca, conhecer a biblioteca comunitária e aprender a produzir um grafismo indígena.

Pensando em tornar a Conexão Baré mais próxima de uma experiência de viagem, o participante é teletransportado para a realidade local através de materiais de imersão cultural e conteúdos sobre a vida indígena, cuidadosamente preparados pela equipe da Braziliando junto à comunidade. 

Além disso, sendo realizada através de uma conexão ao vivo, existe a possibilidade de interações em tempo real! Os participantes podem fazer perguntas para os diferentes anfitriões que nos acompanham durante a vivência a fim de conhecer mais sobre a comunidade indígena amazônica e esse estilo de vida tão particular.

Colhendo os frutos: um ano de Conexão Baré

Após um ano realizando a vivência, percebemos que essa semente plantada na pandemia vem dando muitos frutos. A viagem online vem gerando impacto positivo tanto para os comunitários quanto para os viajantes e rompendo barreiras.

Inclusão

Procuramos tornar nossa experiência o mais acessível e inclusiva possível. Já contamos, por exemplo, com a participação de cadeirantes e de pessoas com deficiência visual e auditiva, que vêm contribuindo, através de suas sugestões, para que a vivência se torne mais adaptada. 

Além disso, lançamos o Passaporte Inclusivo buscando possibilitar que pessoas que não tenham condição de arcar com o valor sugerido possam vivenciar essa experiência autêntica e transformadora na Amazônia.

Educação

A Conexão Baré possibilita também levarmos às escolas e universidades um formato de ensino mais dinâmico e conectado com a realidade indígena, possibilitando a quebra de estereótipos e troca de conhecimentos. Já promovemos a experiência para instituições de ensino do Brasil e do exterior, como a Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade, a Universidade de St. Gallen (Suíça) e a Universidade do Colorado (EUA). 

Inclusive, além de participantes de 16 estados brasileiros, tivemos viajantes de Moçambique, Alemanha, Portugal, França e diversos outros países nas experiências abertas ao público. Quando necessário, essas vivências são realizadas no formato bilíngue. Desta forma, a cultura do povo Baré está sendo disseminada por todo o globo.

Valorização

Falando em cultura, a viagem online tem contribuído para o resgate e fortalecimento cultural na comunidade. Também tem atraído cada vez mais comunitários para o turismo, sejam eles mais jovens, de mais idade, homens ou mulheres.

O pajé, por exemplo, tem compartilhado seus saberes ancestrais com os viajantes, a juventude tem se envolvido nas atividades da Uka (biblioteca da comunidade) e do artesanato, já a anciã tem apresentado seus dons culinários se comunicando inclusive no idioma indígena dos Baré, o Nheengatu.

Ao longo deste ano, foram 15 viagens online realizadas, gerando mais de R$10 mil em renda para a comunidade. Tanto o valor sugerido pela vivência, quanto o faturamento mínimo e a forma de distribuição da renda foram definidos em conjunto com a comunidade, de forma que fosse justo para todos os envolvidos. 

Transformação

O comunitário Joarlison Garrido compartilhou:

“Fazendo uma reflexão, mesmo com todos os desafios da pandemia na saúde, na educação e na economia, eu falo que o Baré estava “on”, porque surgiu a Conexão Baré. Hoje, nós trabalhamos essa iniciativa que a cada dia nos traz mais aprendizado e tem impactado na receita da própria comunidade e ajuda as famílias”. 

Ele conta que a vivência gerou mais reconhecimento para o artesanato local e causou um efeito cascata, incentivando o conhecimento dos artesãos e as vendas.

“É importante compartilhar, é possível fazer o turismo de forma virtual no meio da floresta, desenvolver, inovar e de fato concretizar a sustentabilidade para os povos que vivem na floresta.”

Nossos viajantes também compartilharam um pouco de seus sentimentos após participarem da Conexão Baré.

A Conexão Baré tem um nome realmente apropriado, pois foi uma experiência de muita conexão. […] por mais que a visita tenha sido virtual, me permitiu quase sentir o cheiro da comida e o calor do sol que vinha da comunidade.

Letícia Lopes

Uma viagem muito interessante, uma experiência inesquecível. Uma forma de conhecer outros povos, outras culturas. É interessante perceber como num local tão longínquo há tantas coisas que nos unem.

Ana Paula Pimentel

Surpreendente. Usar tecnologia com tamanha criatividade e sensibilidade foi algo encantador. Não podia imaginar o impacto que isso causaria em mim. […] Momento único.

Cristiane Barroncas

Ficou com vontade de conhecer o povo Baré e embarcar na próxima vivência? Então, preencha aqui a ficha de interesse e receba em primeira mão as informações da próxima viagem online assim que tivermos um novo embarque.

Imagem mostrando o rio, com água escura, e ao fundo a comunidade. Além de algumas construções, é possível ver algumas árvores e o céu azul.
Vista da Comunidade Nova Esperança

Orgulho

Por uma luta mais diversa: indígenas LGBTQIA+

Amor é Amor

Indígenas LGBTQIA+ vivem uma dupla exclusão e, muitas vezes, são invisibilizados pela sociedade. Mas estão ocupando as universidades, os museus, a indústria da música e diversos outros espaços em busca de respeito e reconhecimento.


Semana do Orgulho LGBTQIA+ na BRDO

Na última segunda, dia 28 de junho, foi comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. A Braziliando continua com sua programação dedicada à temática, buscando contribuir com a valorização da diversidade e promover diálogos inclusivos. Você pode conferir outras ações clicando aqui e conhecer o significado da sigla aqui.

A comunidade LGBTQIA+ luta coletivamente em busca dos mesmos direitos: o direito de amar e de ser quem se é. Mas existem outras demandas dentro da comunidade, igualmente urgentes e necessárias: mulheres que também lutam por igualdade de gênero, pessoas com deficiência que lutam por inclusão e pessoas negras e indígenas que também lutam pelo fim do racismo.

Essas questões são somadas à LGBTfobia e aumentam o sentimento de insegurança e a exclusão dessas pessoas na sociedade. Por isso, precisamos enxergar a imensa diversidade de realidades e pessoas que compõem a comunidade para uma luta realmente coletiva e plural, onde as individualidades de cada pessoa sejam respeitadas e celebradas.


Vamos falar sobre indígenas LGBTQIA+?

Para conhecermos um pouco destas outras lutas dentro do movimento, hoje falaremos sobre indígenas LGBTQIA+. Você conhece indígenas da comunidade? Você sabia que o primeiro caso registrado de homofobia brasileiro foi contra um indígena? Já pensou em como a pandemia afetou suas vidas?

Tibira

Sob o pretexto de “purificar a Terra do abominável pecado da sodomia”, o indígena Tibira foi o primeiro caso registrado de morte por homofobia no Brasil. Em 1614, o religioso francês Yves d’Évreux ordenou a prisão, tortura e execução de Tibira do Maranhão, que pertencia a etnia Tupinambá. Os indígenas usam o termo “tibira” para se referirem a homens homossexuais. 

Aos pés do antigo Forte de São Luís (MA), Tibira foi amarrado pela cintura à boca de um canhão e teve seu corpo destroçado. A crueldade de seu assassinato tinha o objetivo de servir de exemplo para quem estivesse presente, já que líderes de outras etnias indígenas foram convocados para assistirem sua execução, e de eternizar a punição, no livro “Histórias das Coisas Mais Memoráveis Acontecidas no Maranhão nos Anos de 1613-1614”.

Quem resgatou esta história e, hoje, luta para que ela ganhe mais visibilidade, foi o sociólogo, antropólogo e ativista do movimento LGBTQIA+, Luiz Mott. Em 2014, Mott publicou “São Tibira do Maranhão — Índio Gay Mártir” onde relata e contextualiza o caso, denunciando a imposição cultural dos colonizadores aos povos originários. Outro pesquisador que também aborda as consequências dessa imposição, é o antropólogo Estevão Fernandes em seu livro “Existe Índio Gay?: A Colonização das Sexualidades Indígenas no Brasil”.

A luta de jovens indígenas LGBTQIA+

A diversidade indígena é muito maior do que imaginamos: são mais de 800 mil pessoas em todo país, de 305 diferentes etnias e falando 274 línguas. Somada a esta riqueza cultural, existe uma infinidade de corpos, vivências e identidades dentro deste grupo.

A juventude indígena vem buscado incluir na discussão as pautas de gênero e sexualidade, mesclando com as demandas históricas de demarcação de terras e educação. O objetivo é ampliar a rede de proteção e apoio, trazendo indígenas LGBTQIA+ para dentro do movimento e pessoas não-indígenas integrantes da comunidade, como aliadas na luta indígena.

Unindo cinco etnias e jovens de sete estados, o Coletivo Tibira surgiu para afirmar a existência de LGBTQIA+ indígenas nas aldeias e nas cidades. O objetivo é criar um espaço seguro de discussão e acolhimento, orientando jovens indígenas LGBTQIA+ e fortalecendo o movimento.

A discriminação pode acontecer dentro das próprias aldeias e, em muitos casos, falta representatividade. E quando vão para centros urbanos — cursar uma universidade, por exemplo — também são alvos de preconceito. Tanaíra Silva, uma das criadoras do coletivo, defende que “os indígenas que vivem no contexto urbano são atravessados por uma lógica não indígena, somos transpassados por racismo e desqualificação, isso gera uma enorme dificuldade de se inserir”. 

Pandemia

De acordo com um estudo feito pelo coletivo VoteLGBT e pela Box1824, um escritório de cultura e inovação, sobre os impactos da pandemia na população LGBT+ brasileira, a população indígena está entre os grupos mais vulneráveis em relação à COVID-19. O estudo contou com a participação de 9 mil pessoas de todo Brasil e analisou os impactos na saúde emocional e na falta de fonte de renda, por exemplo.

Outro dado preocupante apontado pela pesquisa é que a taxa de desemprego entre pessoas LGBTQIA+ foi quase o dobro da média nacional registrada pelo IBGE, no primeiro trimestre deste ano. Cerca de 24% das pessoas entrevistadas perderam o emprego durante a pandemia.

O diagnóstico indica algumas possíveis ações para transformar essa realidade. Entre as estratégias, estão o fortalecimento das redes de apoio e a priorização de profissionais LGBT+ para trabalhos e oportunidades. Você também pode conhecer e ajudar alguns projetos aqui.

Indígenas LGBTQIA+ para conhecer

A imagem estereotipada de pessoas indígenas vêm se contrapondo às muitas personalidades indígenas atuais que usam sua voz para trazer mais visibilidade às suas lutas. Seja na arte, na música, na educação, na criação de conteúdo, podemos encontrar pessoas que estão sendo resistência e ocupando lugares muito importantes. Agora, vamos conhecer indígenas LGBTQIA+ que estão se destacando no cenário nacional.

Indígena LGBTQIA+: Uýra, por Hick Duarte
Artista indígena, bióloga e educadora. Criada por Emerson Pontes, Uýra consegue unir as lutas LGBTQIA+ e indígena ao debate da conservação da natureza. Atualmente, participa de uma exposição no Museu de Arte do Rio (MAR) com a performance fotográfica intitulada “A Última Floresta”, onde denuncia o desmatamento e o desaparecimento de espécies botânicas. Emerson defende “sou indígena mesmo habitando a cidade e a contemporaneidade”.

Foto: Hick Duarte

Indígena LGBTQIA+: Yacunã e seu desenho ao fundo
Yacunã é artista visual e uma das principais lideranças em defesa da causa indígena LGBTQIA+. A ativista, da etnia Tuxá, tem um extenso portfólio: foi uma das artistas da exposição “Véxoa: nós sabemos”, na Pinacoteca; também participou da exposição coletiva e virtual “Amar, verbo transitivo” e da exposição virtual “Um outro céu”. Através de ilustrações, colagens e desenhos, Yacunã começou a divulgar seu trabalho em suas redes sociais em 2019, falando sobre espiritualidade, memória e sabedoria das anciãs de seu povo.

Foto: Divulgação/Instagram @yacunatuxa

Indígena LGBTQIA+: Victor Reiz com folhas ao fundo
Victor Reiz, ou INDIO, é diretor criativo, fotógrafo e designer. Já trabalhou em diversas produções de projetos audiovisuais e com nomes importantes para a comunidade LGBTQIA+, como a drag Gloria Groove (A Caminhada e Bonekinha), Iza (Gueto e Let Me Be The One) e Gaby Amarantos (Vênus em Escorpião). Victor também é um dos responsáveis pelo Coletivo Tibira.

Foto: Divulgação/Instagram @victorreiz

Indígena LGBTQIA+: Laís Eduarda Tupinambá por Rayhata
Laís Eduarda Tupinambá é ativista dos direitos das mulheres indígenas e estudante de Humanidades na UFSB. Do povo Tupinambá de Olivença, Laís atua na gestão da Rede pelas Mulheres Indígenas, projeto que busca melhorar a realidade de mulheres indígenas do Nordeste, e é colaboradora no Projeto Papo de Índio, canal que discute gênero, diversidade e sexualidade indígena.

Foto: Rayhata

Indígena LGBTQIA+: Katú Mirim por Rodolfo Magalhães
Katú é atriz, rapper e fundadora do portal Visibilidade Indígena. Através das redes sociais, Katú Mirim conta sua jornada em busca de si mesma e suas raízes. Filha de aldeia e quilombo, resistência indígena na periferia, suas músicas falam de sua vida, da retomada de identidade, memória, racismo, gênero, espiritualidade e do todo que a faz ser quem é. Em 2021, criou a tag #Indigenasjobs com o intuito de promover uma ponte entre indígenas e o mercado de trabalho.

Foto: Rodolfo Magalhães

Estas pessoas são apenas alguns exemplos de indígenas LGBTQIA+ que estão ocupando diversos espaços e levando ambas as pautas para sociedade através de seus trabalhos. São pessoas que lutam diariamente contra o preconceito e que ajudam a construir uma sociedade mais diversa e inclusiva. A população indígena faz parte da história do Brasil e hoje você descobriu que faz parte da história do movimento LGBTQIA+ também.  


Tem interesse em se conectar com a cultura indígena? Conhecer suas histórias, sua gastronomia e artesanato? Conheça os indígenas Baré de uma forma imersiva, interativa e online. Vamos continuar apoiando comunidades tradicionais, através da valorização cultural e da geração de renda.

Conversa com o pajé

Os indígenas Baré na quarentena

Queridos amigos e parceiros da Braziliando, esperamos que vocês e seus entes queridos estejam bem. Muitos de vocês vêm nos perguntando como está a situação dos nossos parceiros indígenas Baré na quarentena e estamos aqui para dar notícias! 

A Suspensão das Viagens da Braziliando

Desde o início dessa pandemia, temos estado em contato com os representantes da aldeia e, mesmo antes do anúncio das novas medidas de contenção do coronavírus no Brasil, preferimos suspender nossas atividades. Na Braziliando, buscamos promover transformações positivas através de experiências de viagem autênticas e responsáveis e não queremos colocar ninguém em risco de contaminação, nem os viajantes nem a comunidade indígena.

Ainda que os Baré sejam um povo forte e corajoso 💪, não é menos verdade que certas doenças, como o Covid-19, podem deixar os indígenas mais vulneráveis, especialmente quando os hospitais mais próximos, os de Manaus, estão distantes e atualmente superlotados. Então, já há algum tempo, pausamos nossa experiência de turismo sustentável na Amazônia, esperando retomar em breve nossas imersões na querida floresta amazônica.

Amanda
Viajante Amanda na comunidade Nova Esperança

Os Desafios da Comunidade na Quarentena

Foi um alívio ouvir do José, o cacique e líder comunitário, que ninguém na comunidade foi afetado pela doença. Felizmente, eles estão tomando muitas precauções e buscando respeitar as medidas de contenção do Covid-19.

Na floresta, onde a vida comunitária é essencial, o confinamento é bastante desafiador. José compartilhou que a vida dos indígenas Baré na quarentena mudou: eles que costumavam viver juntos, brincar juntos, trabalhar juntos, estão tendo dificuldade de manter essa união com o isolamento social.

Embora seja possível sobreviver da caça e da pesca, Joarlison, filho do José e vice-líder da comunidade, compartilhou que alguns alimentos e produtos de higiene básicos, como pasta de dente, sabão, arroz, feijão e leite, estão em falta. 

Além disso, os habitantes temem por sua saúde uma vez que a campanha de vacinação organizada com o auxílio do governo foi suspensa. Eles compartilharam também que os médicos que costumavam comparecer uma vez por mês não estão mais visitando a comunidade e distribuindo medicamentos.

Contudo, um dos maiores desafios para indígenas Baré na quarentena talvez seja a situação econômica. O Turismo de Base Comunitária (TBC) e a venda de artesanatos, que colocaram em prática uma alternativa de atividade sustentável nas aldeias amazônicas, cessaram e as famílias não estão tendo meios de complementarem a renda.

Entrada da comunidade na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Puranga-Conquista.

Vamos Juntos Co-criar o Futuro?!

A Braziliando vem buscando formas de se reinventar nesse período de crise e de continuar apoiando a comunidade, especialmente através da geração de renda e da valorização cultural. Seguimos em constante contato com os comunitários e potenciais parceiros, buscando novas soluções, e estamos com a mente pulsando com novas ideias!

Defendemos uma gestão inclusiva da crise e queremos te convidar a fazer parte da co-construção desse futuro, cheio de possibilidades! Vamos construir juntos um novo presente?! Compartilhe com a gente suas ideias e sugestões para mantermos a Braziliando e Nova Esperança florescendo! 🌸🌺 E com muita colaboração vamos sair mais fortes desse caos!

Esperamos que esses longos momentos de reflexão que nos estão sendo oferecidos com o isolamento social sejam uma oportunidade para formar mais viajantes conscientes. Desta forma, quando essa crise finalmente acabar e pudermos viajar em segurança novamente, poderemos voltar a promover essas imersões transformadoras e o turismo sustentável será novamente um caminho para a construção de um mundo mais justo e unido.

Estamos animadíssimas para receber suas idéias e sugestões para ajudar a Braziliando e nossos parceiros na comunidade indígena de Nova Esperança! Você pode compartilhá-las aqui nos comentários ou nos mandar por e-mail (discover@braziliando.com) ou através do nosso Instagram ou Facebook.

Se cuida! 💚

Com carinho, Braziliando.